Educação Socioemocional nas Escolas – Pilar da Aprendizagem Integral e sistêmica
Por Neide Gomes Barros – Escritora, Assistente Social, Psicanalista e Autora da Coleção Socioemocional Lúmina
A promoção da aprendizagem socioemocional nas escolas não é um modismo pedagógico ou um acréscimo acessório ao currículo: trata-se da base para a construção de uma educação verdadeiramente integral, inclusiva e humanizada. Ignorar essa dimensão é negligenciar uma parte essencial do desenvolvimento humano. A educação socioemocional deve ser compreendida como uma proposta estruturante da prática pedagógica, e não como mais uma tarefa imposta aos já sobrecarregados professores.
Mais do que ensinar habilidades cognitivas, a escola do século XXI precisa formar indivíduos capazes de pensar criticamente, agir com empatia, colaborar com os outros, lidar com suas emoções e tomar decisões responsáveis. Para isso, é indispensável compreender que a dimensão emocional está entrelaçada à aprendizagem e à convivência, sendo condição para que o aluno se engaje nos processos educativos com mais sentido e profundidade.
Professores: Protagonistas e Cuidadores que Também Precisam de Cuidado
O papel docente na promoção da educação socioemocional é central, mas não pode ser desempenhado de maneira isolada ou sob pressão. A profissão docente, já reconhecida como uma das mais estressantes, exige um suporte institucional que inclua o cuidado com a saúde emocional do professor. A implementação eficaz de práticas socioemocionais nas escolas requer, antes de tudo, um ambiente de trabalho saudável, em que os educadores se sintam acolhidos, ouvidos e apoiados.
Nesse contexto, incluir a saúde mental dos educadores como pauta relevante dentro dos projetos pedagógicos é um passo decisivo para fortalecer a cultura da educação socioemocional nas escolas. O bem-estar do professor é um fator determinante para o sucesso de qualquer iniciativa nesse campo. Afinal, quem cuida também precisa ser cuidado.
Emoções e Aprendizagem: Caminhos do Autoconhecimento
Incluir a dimensão emocional no cotidiano escolar não significa transformar a escola em um espaço terapêutico, mas sim reconhecer que emoções fazem parte da aprendizagem. Quando os estudantes compreendem e expressam suas emoções, eles se envolvem de maneira mais significativa com os conteúdos, desenvolvem empatia, estabelecem relações mais saudáveis e ganham ferramentas para lidar com os desafios da vida.
O autoconhecimento, uma das competências centrais da aprendizagem socioemocional, possibilita ao aluno identificar suas emoções, compreender seus comportamentos e refletir sobre suas decisões. Essa consciência de si favorece a construção de uma autoestima saudável e o fortalecimento das relações interpessoais.
Para Além das Perguntas “Como Você Está se Sentindo?”
Desde a fundação do Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL), em 1994, muitos programas e abordagens surgiram com o intuito de integrar o ensino socioemocional ao currículo escolar. No entanto, há uma diferença marcante entre propostas estruturadas e ações pontuais, como perguntas genéricas do tipo “Como você está se sentindo hoje?”.
Embora essas perguntas possam ser portas de entrada para a escuta, elas não dão conta, por si só, da complexidade do desenvolvimento socioemocional. A aprendizagem socioemocional exige planejamento, intencionalidade pedagógica, formação continuada de professores, e, sobretudo, uma abordagem sistêmica que envolva toda a comunidade escolar.
Uma Abordagem Sistêmica e Alinhada com Diretrizes Educacionais
A abordagem mais eficaz para o desenvolvimento socioemocional na escola é aquela que se baseia numa visão sistêmica, integrada e contínua, que considera não apenas o aluno, mas todo o ecossistema escolar. Isso implica envolver gestores, professores, funcionários, famílias e a comunidade em torno de uma cultura do cuidado, da escuta e do respeito mútuo.
No Brasil, essa abordagem encontra respaldo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estabelece as dez competências gerais da educação básica, incluindo o desenvolvimento de habilidades socioemocionais como autoconhecimento, empatia, pensamento crítico, cooperação e responsabilidade.
Além disso, as competências da BNCC dialogam diretamente com os cinco domínios propostos pelo CASEL:
- Autoconsciência
- Autogerenciamento
- Consciência social
- Habilidades de relacionamento
- Tomada de decisões responsável
A convergência entre BNCC, CASEL e os Quatro Pilares da Educação propostos pela UNESCO (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser) indica que a educação socioemocional deve estar no cerne das políticas educacionais e das práticas pedagógicas cotidianas.
Investir em educação socioemocional é investir na formação de sujeitos mais conscientes, empáticos e preparados para os desafios do século XXI. É também reconhecer que nenhuma política educacional será plenamente eficaz sem o cuidado com aqueles que a tornam possível: os professores.
Promover o desenvolvimento socioemocional, portanto, não é apenas um compromisso com os alunos, mas com toda a comunidade escolar. Exige uma mudança de cultura, de práticas e de visão sobre o que significa educar integralmente. Trata-se de cultivar um ambiente em que aprender e conviver andem de mãos dadas, e onde todos – alunos e professores – possam se desenvolver como seres humanos plenos.